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Fascinação

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Ao afirmar que jamais concordei, tampouco me iludi, com as afirmações propaladas a respeito de ser o povo brasileiro pacífico, cordato e receptivo, sei não ser o primeiro a fazê-lo. Abundam os arrolamentos e detecções de que aqui a violência graça do trânsito aos lares, assolando gêneros, raças, condições sociais, profissões, o acaso, enfim, permeando intimamente praticamente todos os aspectos pelos quais se possa qualificar a vida que aqui se leva.

Mas não é exatamente por tais aspectos que pretendo, ao menos, fazer mensurar o quanto nossa veia beligerante alcança. Ela vai além, pois transcende a tudo isto que já conhecemos ou, infelizmente não raro, já experimentamos de mais longe ou de mais perto.

Tamanha a ânsia pela disputa, o gosto pela discórdia, que até naquilo em que deveria consistir na transmutação da força bruta primitiva em exercício cívico e civilizado de disputa periódica para o apaziguamento das intenções para com os futuros de todos, o brasileiro consegue imprimir desproporcional contenda: eleições.

Elas, que deveriam ser somente, ainda que a mais sublime, parte de todo um processo de efetivação e materialização do regime democrático acabam por se tornar instituto de infindáveis celeumas a prejudicar a todos.

O pleito presidencial, por exemplo, jamais terminou ainda que o resultado das urnas já tenha, há muito, sido proclamado e o dali ungido já empossado. No curso de seu mandato, haja o que houver, remanescem intensas as defesas ou ataques, conforme a conveniência litigante, como se transcorrendo o período de campanha em sua plenitude. Por pior, a campanha para a eleição vindoura, para os mesmo fins, de há muito, já se iniciou sem que se atente, verdadeiramente, para o exercício daquilo que (perdoem a redundância ou o que pareça) deveria ser exercido. E, creio, nem seja necessário elencar os temas de profunda gravidade que são instrumentalizados como objetos de bandeiras político-partidárias.

Recém saídos de ainda fresca eleição para prefeitos e vereadores, não satisfeitos, homens e mulheres deste pais direcionaram suas verves e energias, a, pasmem, eleições em País outro, tomando posição a propósito de nação outra, soberana, da qual sequer fazemos parte ou possuímos legitimidade para votar. Sim, me refiro ao pleito da norte américa que com suas peculiaridades, semeou aqui contentes efusivos e descontentes indignados, apesar de ambos só conhecerem o território pela televisão ou por rasas visitas turísticas.

Agora, poucas dezenas de dias após, nos vemos, novamente, envolvidos pela nuvem bélica das opiniões, manifestações e posições referentes aos pleitos eleitorais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, cujos candidatos já possuem ferrenhos adeptos apesar de serem menos conhecidos aqui do que aqueles que concorreram nos Estados Unidos.

Não defendo a alienação ou indiferença diante dos rumos advindos dos resultados eleitorais em País que apesar de outro que não o nosso, interfere nos cotidianos mundiais, em absoluto! Tampouco, e com mais ênfase ainda, desejo ignorância sobre como e quem dirigirá tão importantes e indispensáveis instituições intimamente alicerçais ao Brasil como as duas Câmaras que compõem o Poder Legislativo Nacional, é óbvio!

O que defendo, se me é dado fazê-lo, ou pelo que esgrimo, é o aprofundamento dos debates para além de quem ou de com quem esteve ou estará qualquer dos eleitos. Adiante da fulanização que, afinal de contas, sustenta a gritaria que orbita em torno de toda e qualquer eleição que seja noticiada, lá de longe, do norte do continente, do planalto central ou do arrabalde terreno.

Primeiro passo em elevação da democracia, do fundamento das disputas que são (ou deveriam ser) em sua essência quem servirá ao bem comum, logo o que deveria ser objeto de adoração. Não essas gritarias que se seguem e, sim, descambam para costumeiramente em violência, e que são nada mais que andar em círculos sem perspectiva de chegada a algo verdadeiramente útil ao menos para nós.


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